Uma das motivações para a realização deste projeto foi o contato direto com pessoas com diversos tipos de necessidades especiais, principalmente uma professora tetraplégica,senhora Genilda Neves (que mostraremos mais adiante), filha de uma Fisioterapeuta formada no UniSALESIANO de Araçatuba, que sofreu um acidente automobilístico aproximadamente 18 anos atrás.
O projeto consiste do desenvolvimento de uma plataforma robotizada (na forma de um exoesqueleto para membros superiores) para realização de procedimentos de reabilitação em pacientes que sofreram sequelas neurológicas decorrentes de Acidente Vascular Encefálico e outras enfermidades similares.
Como se trata de um projeto cuja finalidade final é a aplicação clínico-terapêutica num ambiente como uma clínica de Fisioterapia, esta parte deverá ser executada posteriormente, já que envolverá inicialmente um complexo treinamento da equipe de profissionais de saúde em relação à protocolos existentes na área ou, na ausência destes no país, desenvolver-se-á tais procedimentos sistematizados à partir da própria utilização clínica do equipamento, tendo como fundamentação a literatura internacional sobre o tema. Portanto, o foco do projeto é a construção do equipamento,ou seja, a criação de um protótipo funcional, em tamanho real, e obedecendo todos os requisitos e normas técnicas tanto de engenharia quanto da área desaúde, devidamente regulamentados no Brasil por órgãos como a ABNT, o CREA, a ANVISA, e internacionalmente como a SAE (Societyof Automotive Engineers) a ISO (International Organization for Standardization) e outras instituições.
Contudo, este projeto/protótipo possui um diferencial técnico-científico absolutamente inédito em relação à qualquer outro produto comercializado, e mesmo em relação a equipamentos em pesquisa e desenvolvimento. Trata-se do uso de uma “interface cérebro-máquina”, que numa etapa posterior será acoplada com a finalidade de efetuar rotinas de treino de neuroplasticidade através da técnica conhecida como ‘imageria mental’. Necessário frisar que estamos nos pautando por resultados que são publicados por renomadas instituições e pesquisadores internacionais, citando apenas um, Dr. Miguel Nicolelis, da Duke University.
O “exoesqueleto para membros superiores” é um equipamento classificado internacionalmente como pertencendo à categoria “robótica assistiva”, destacando que existem aparelhos similares inventados, pesquisados, industrializados e comercializados em nações desenvolvidas, exigindo grande expertise técnico interdisciplinar e translacional (Engenharias, Fisioterapia, Medicina e outras). No Brasil, menciona-se a Rede Lucy Montoro, e a AACD, ambas de São Paulo, que possuem tais exoesqueletos de reabilitação, devendo seu custo chegar na cifra aproximada de 1 milhão de reais (aparelho da marca Hocoma, modelo Armeo Spring, e também modelo Armin, para membros superiores).
Nossa propositura para a concepção desta plataforma robotizada, ou exoesqueleto para membros superior esteve como ponto central a ideia de se ter um equipamento de alta eficiência e qualidade técnica, baixo custo e que tivesse uma versão para ser disponibilizada gratuitamente para entidades públicas ou ONGs e instituições filantrópicas, devido ao seu altíssimo custo de mercado. Paralelamente,teríamos que buscar conseguir tudo isto procurando, ao máximo, níveis técnicos semelhantes ou próximos aos níveis de equipamentos desenvolvidos internacionalmente. Isto exigiria, portanto, uma equipe interdisciplinar e transdisciplinar de trabalho, e não apenas pessoal da área de Engenharias.
Assim,desde o início, estabelecemos parceria entre as Engenharias, principalmente Elétrica, Mecânica e Mecatrônica (depois também agregou-se a Engenharia da Computação e, mais recentemente, Engenharia de Bioprocessos), com o curso de Fisioterapia. Desta maneira, iniciamos várias ações direcionadas à uma metodologia translacional e, neste sentido, decidimos criar o “Laboratório de Robótica Assistiva” que, além de se constituir num espaço físico, agregaria objetivos, metas, pessoas e ideias em torno de finalidades comuns. À partir disto, balizamos diversos aspectos que passamos descrever em seguida, e que se constituiriam como estratégias de ação, tendo como origem o Projeto IUS aqui apresentado.
um ponto importante tomado como pilar do projeto, foi a ideia de termos sempre o envolvimento dos acadêmicos em todas as etapas de desenvolvimento do projeto,quer fosse em nível de atividades que ocorressem em disciplinas do currículo,ou então na pesquisa acadêmica como a Iniciação Científica (PIBIC/PIBIT) e também na realização de trabalhos de conclusão de curso (TCC). Ou seja,consideramos estratégico envolver tais acadêmicos em todas as dimensões que os mesmos pudessem participar no contexto das possibilidades que a universidade oferecesse.
Dentro disto, visualizamos a possibilidade de fazer com que por intermédio da construção deste protótipo,agregássemos outros equipamentos que se somassem ou que se complementassem,pensando-se na criação num futuro próximo de uma espécie de “Clínica de Reabilitação com Robótica Assistiva”, reunindo uma série de equipamentos,tecnologias, procedimentos, metodologias e protocolos. Neste sentido, conforme será apresentado logo a seguir, este projeto produziu diversos desdobramentos,a maioria deles intencionais, aproveitando ou relacionando conceitos e desenvolvimentos técnicos de um projeto para outro, além também de se pensar posteriormente na construção de um ambiente clínico de reabilitação através da robótica assistiva, que propiciasse o cumprimento do tripé da universidade:Ensino, Pesquisa e Extensão. Por outro lado, mas também na mesma direção, a partir do instante que criou-se o Laboratório de Robótica Assistiva, tanto docentes colegas quanto os próprios acadêmicos, puderam conhecer,gradativamente e de forma cada vez mais crescente, um trabalho que possuía um ‘feeling’, uma ‘marca registrada’.
Então,como poderá ser constatado na parte dos Resultados, conseguimos desenvolver projetos com forte cunho social, ou seja, que diretamente atingissem o ser humano, as pessoas, a saúde das pessoas. Inclusive, projetos como o “Lift para pessoas acamadas”, assim como o “Exoesqueleto para membros inferiores”,iniciaram-se à partir de nosso posicionamento de oferecer uma perspectiva de reabilitação para pessoas nestas condições funcionais de saúde e de vida. Par os cursos de Engenharia com acadêmicos diretamente envolvidos nestes e nos demais projetos, foi emergindo a necessidade da aquisição de conhecimentos técnicos-científicos até então não abordados pelo currículo formal como, por exemplo, Biomecânica. Neste sentido, a parceria estreita entre a Fisioterapia foi trazendo, gradualmente, um aporte técnico e científico para acadêmicos das Engenharia Mecânica, Elétrica e Mecatrônica.
Concomitantemente, também tivemos por parte de colegas docentes, mais ou menos engajados na pesquisa científica, como a Iniciação Científica, uma visualização bastante pontual sobre o que vem a ser a “tal” da “Robótica Assistiva” e, desta maneira, poderem compreender a real dimensão e necessidade da academia se voltar mais para estudos e desenvolvimento tecnológico direcionados para a área de Saúde. Mais uma vez, tal ambiência, jazeu em função direta deste Projeto IUS.
Projetando uma perspectiva futura, na parte da extensão, acreditamos que na medida que tal equipamento esteja operando, consigamos ampliar não apenas a quantidade de pacientes que atualmente são atendidos na própria mas, sobretudo, melhorar a qualidade no atendimento e mais ainda, na qualidade da reabilitação dos pacientes atendidos dentro desta modalidade.